segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Se tens um coração de ferro, bom proveito. 
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.
                                                        José Saramago

Discordo dessa versão contemporânea de amor. Para os amantes da atualidade, não existe amor sem reciprocidade. Por que dizer te amo, se ela (ou ele) não disse? Por que ligar para dizer bom dia se ela (ou ele) ainda não tomou a iniciativa? Vivemos constantemente esperando iniciativas do outro para expressarmos aquilo que nos está
Acho que amor é justamente sobre falta de simetria e equilíbrio. É dar tudo de si, é não ter medo de querer mais do outro, é não ter medo de dizer que é carente e sente falta. Nesse mundo louco de hoje, quem não é carente? Vivemos cada dia com a esperança de não sermos esmagados pelas atribulações de todo dia, pelas respostas atravessadas, pelos desamores ao longo do caminho. Temos esperança. Eu tenho esperança.
Amar é falta de equilíbrio porque demanda doação, falta de egoísmo, é deixarmos o orgulho de lado e realmente dizermos que estamos errados sem estar. Quem se importa em ganhar uma briga? Eu prefiro ganhar a minha vida. É claro que há um tempo atrás, se me fosse perguntado o que eu iria preferir ser feliz ou estar certa, eu responderia sem titubear “estar certa!” com o ponto de exclamação e tudo para demonstrar minha ênfase. É claro que eu responderia que preferiria estar certa, ainda não sabia muito bem o que o amor demanda de nós.
Achava que amar era somente leveza, bons momentos, prazer. Igual a gente vê no Facebook, essa rede social -mágica- que nos faz ver tudo por um olhar quase miraculoso da existência humana, é uma rede social que todos são perfeitos, felizes, e caso vejamos alguma postagem que remete à tristeza, a maioria está ligada à mensagens de otimismo também. São todos felizes.
Quando o outro começa a apresentar defeitos, está na hora de trocar. Acho que é até um pouco lógico isso. Nessa sociedade com resquícios fordistas, tudo pode muito bem ser substituído por algo exatamente igual, com uma semelhança que chega a assustar. Mesmas legendas de foto, mesmas 'hashtags', mesmo lenga-lenga até o substituto apresentar também um defeito. E ainda há quem reclame “mas eu só queria amar alguém!”. É difícil amar quando estamos preocupados com nós mesmos o tempo inteiro. Com o nosso bem estar.
O meu bem estar depende da pessoa que eu ame, e se eu estiver que ficar uma noite inteira acordada ouvindo seus problemas eu ficarei. Não por me importar com ele, e sim comigo. O meu bem estar e o da pessoa que amo devem ser coisas conjugadas.
Eu gostaria muito de dizer que todos os romances que viveremos serão iguais aos de novela, em que o mocinho não acorda com a cara amarrotada, que está sempre sorridente e otimista em relação ao mundo, que nunca erra ou faz coisas pouco virtuosas. Eu gostaria? Será que eu gostaria mesmo? Na verdade, acho que essa mania de querer tudo perfeito é uma herança trazida há muito por nossos ancestrais que têm uma característica 'facebookiana': “Vamos lá, não chore, fica feio se as pessoas verem!” “você vai realmente falar que ama sem ter ouvido antes?”
Manter as aparências é tão mais fácil do que encarar quem o outro realmente é. E é tão fácil estar a procura do amor do que encontrá-lo e deixar escapar. Não podemos culpar nossa incompetência pelo menos, e podemos atribuir a falta de amor a “falta” de pessoas qualificadas. Será que nós somos qualificados? Será que estamos dispostos a nos doar? Até que ponto poderemos fazer isso?
Veja bem, não quero que todos larguem sua dignidade e amor próprio e corram atrás de pessoas como se fossem o ar que respiram. Eu acho que saber amar é uma característica do amor próprio. Se não estamos dispostos a realmente nos sacrificar nem que seja um pouco para vivermos um amor, por medo de perder nosso amor próprio, é porque o amor próprio é algo muito frágil.
Partilhar o amor é fortalecer o amor próprio. 
Fazer mais coisas por uma pessoa que se ama, não porque fizeram por você. Fazer por fazer.
Sem esperar uma resposta mirabolante do universo
Fazer porque se ama
Sem querer um “obrigado” 
Fazer porque sem fazer deixamos de fazer por nós
Sem querer não parecer carente 
Fazer para parecer carente então 
Sem querer omitir 
Fazer para crescer o amor 
Sem querer usar o ego para evitar sentir dor.  

Mil séculos depois...

Desculpem a todos pelo meu atraso esse ano!
A faculdade tem engolido minha capacidade criativa junto com mil resenhas, provas e trabalhos. Então só nas férias meu cérebro tem capacidade de pensar sobre coisas bonitas como amor, por exemplo. Já estou enviando um texto novo no blog para vocês matarem a saudade.
Estou completamente enferrujada, desculpem se não ficar tão bom assim.
Saudades desse espaço.