domingo, 8 de dezembro de 2013

Viciados em infinito

"Porque, há muito, eu erro a receita do equilíbrio. Uso a parte que não deveria na hora em que não poderia. Me confundo com as metades que brigam dentro de mim. Tenho uma parte que acredita em finais felizes. Em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade. Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha. Metade autossuficiente…"
(Caio Fernando Abreu) 

         Percebi que só sei escrever entre extremos estados emocionais : felicidade explosiva ou tristeza infinda. Bom, esse é um desses momentos em que me sinto entocada em mim mesma e imersa em tudo quanto é experiência pela qual passei desde meus anos de vida em que tinha lucidez e sabia o que estava ocorrendo ao meu redor.
Não sei perdoar e não entendo o porquê.Perdoar é lindo e sempre choro em filmes que falam sobre perdão. Acho que perdoar é,acima de tudo, um ato de amor. Mas eu não sei...Parece que ao amar, tanto amigos quanto namorados, dou um pedaço da minha alma para a pessoa,confio inteiramente e espero o mesmo. Às vezes há sim a decepção,mas em alguns casos consigo guardar as pessoas mais lindas que conheço bem aqui,em mim. Seguindo um raciocínio lógico, se amar é um ato de amor e eu não sei perdoar,pode ser que eu também não saiba amar. Talvez eu não perdoe por preguiça,apenas. É,preguiça. Mentalmente eu já imagino o parto que vai ser reabrigar a pessoa no coração e vida, e reempossá-la de todos os artifícios para me ferir novamente, e rir de novo, e até mesmo chorar com ela. É um desgaste emocional que evito. 
Podem me chamar de covarde mas a verdade é que viver é um desgaste emocional eterno.Poderia dizer que tenho uma alma de mil anos e todas as dores,alegrias e vivência não saem da minha cabeça, que vive fazendo um replay idiota de tudo que já aconteceu.Sou um replay mal feito do passado, porque sempre fui eu. Não sei o que acontece com as pessoas que chegam na minha vida,por razões absurdas não conseguem permanecer. Aliás, está aí uma das coisas que mais me pergunto nos últimos tempos :Por que quem chega nunca permanece? Claro que, salvo raras exceções,algumas pessoas permanecem. Mas é estranho quando revejo fotos do passado e tenho a estranha sensação de não saber como estão algumas pessoas que antigamente eram tão importantes. Não sei lidar com 'adeuses'.Sou uma tragédia de adeuses mal feitos, pelo simples fato de não saber dá-los. Eu sempre acho que sumir bruscamente vai resolver,mas é fugir. Sou tão corajosa para algumas coisas e tão 'mocinha' para outras. 
O mais estranho é que algumas pessoas, ao me conhecerem, se encantam com meu jeito  e gostam muito de mim, alguns me amam e eu penso que realmente pode ser para vida toda aquela amizade/romance.Ah, o vício humano em eternidade! Tema de vários livros,músicas e qualquer outra forma de arte. A vicitude humana em infinito. Queremos porque queremos que tudo seja eterno, que nada mude, para que saibamos lidar com as mesmas coisas sempre, e não nos magoemos com qualquer coisa. Seria bom. Será? Eu realmente pensava assim, em uma vida estática,mas feliz. Sem surpresas mas com as mesmas alegrias. É óbvio que eu raramente me magoaria por estar em um cenário conhecido, em um terreno em que pisava os pés e sentia a terra, e sabia que a terra daquele lugar era conhecida minha. 
Aprendi que surpresas podem ser ruins. Podem virar decepções. Podem ressecar. Mas algumas...Ah! As surpresas boas fazem-nos lembrar do porquê estamos vivos...Eu não sei quando vou morrer,você sabe? Eu não sei quando vou rir até chorar,também. Não sei quando vou encontrar alguém querido.Não sei quando vou receber uma linda declaração.Não sei quando vou encontrar a mim mesma. Você sabe? Isso tudo é tão acaso,e ninguém sabe a resposta. Mas é aquilo : Não lembramos que temos um coração até o mesmo bater acelerado por ver alguém ou parar. Não lembramos que respiramos até ficarmos ofegantes de tanto pular em uma festa ou nos afogarmos,por exemplo.Não lembramos que temos um braço até ele ser tocado por alguém e arrepiar-se ou até quebrarmos.Não lembramos muito da vida até ela pulsar de dor ou de te fazer sorrir. 
É isso. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013


"Se procurar bem você acaba encontrando.Não a explicação (duvidosa) da vida,mas a poesia (inexplicável) da vida." Carlos Drummond de Andrade

Esse ano foi um bom ano para pensar sobre sonhos. Dividi os sonhos de algumas pessoas e pude pensar um pouco melhor a respeito dos meus. Se eu pudesse definir o meu ano de 2013 em uma palavra ,eu diria,sem pestanejar: Sonhos. Acho que aprendi a viver alguns de verdade, como por exemplo amar o amor de forma una, e realmente se entregar inteiramente ao outro, e não passar um dia sequer sem dizer que amo alguns poucos que com certeza fariam falta se fossem embora. E também aprendi a respeitar o sonho de outros, a não fazê-los desistir, e enquanto eu falava para que não desistissem dos sonhos e planos que traçaram para si, lembrava dos meus, que sempre estiveram escondidos em algum lugar em mim, como se fosse uma semente e que veio esse ano a crescer, formar árvore, com raízes profundas. 
Sempre gostei muito da frase que 'somos do tamanho de nossos sonhos',sempre achei bonita e pensava que eu era uma grande pessoa, afinal,meus sonhos nunca foram bobos ou pequenos demais (aliás, existem sonhos pequeninos?).Entrando nessa atmosfera onírica e vendo tantas histórias ao meu lado esse ano, tanta gente com histórias lindas, eu adaptei essa frase a uma ideia constante em minha mente: Somos do tamanho do que fazemos para atingir nossos sonhos. E eis que me vi,cercada, de grandes pessoas o tempo todo. Meus pais, professores e amigos me ensinaram a fazer o que eu pudesse,dentro da honestidade, para atingir o que eu quero. E eu guardei essa frase adaptada e maluca em minha cabeça desde o ano passado mais ou menos. 
E eu quero ser uma grande pessoa, afinal, quem não quer ser uma grande pessoa? Quero inspirar pessoas, quero ajudá-las a superar medos e crescerem, por fim. Eu mesma vejo que não cresci em alguns quesitos de minha vida, continuo a mesma menina de sempre, resmungona e que adora um carinho dos meus. Mas uma coisa, eu não posso negar, é que eu cresci muito como pessoa nesses dois anos e reaprendi a fazer coisas que antes pareciam tão banais. Eu nasci amando as pessoas, cresci cercada de amor, e achei que amar fosse algo simples. Me enganei. Amor também é dor. E toda aquela história de tentar amar o que projetamos para o outro em nossas mentes, é algo que não recomendo. Esse ano, uma pessoa muito especial, que eu amo, amo muito, me ensinou a amar. Amar no sentido mais amplo da palavra. Amar a vida, enfim. E o amor romântico acaba reduzindo isso,na minha opinião.Como citou Santo Tomás de Aquino: "Amar é querer bem a qualquer um."
Partindo do pressuposto que costumo ver os mesmos filmes mil vezes, e nunca me canso,meu namorado disse algo que me chamou a atenção: "Parece que você gosta de saber como as coisas terminam,sempre." E bom, não posso me negar a concordar com uma das pessoas que me conhecem melhor nesse mundo de meu Deus. Eu gosto muito de saber como as coisas terminam, e já fiquei louca com a imprevisibilidade da vida, acho chato traçar um plano para minha vida e ele simplesmente esvair-se do nada. Já fiquei tão triste por não ter conseguido cumprir alguns planos...Mas agora, depois desse ano inteiro degustando o imprevisível, e com uma sensação de 'coração paralisado' a cada surpresa com que me deparava, percebi que gosto de não saber o final de algumas histórias. Não sei se quero saber o final da minha história agora, afinal, saber as coisas antes da hora pode ser bem ruim. Por exemplo, se uma moça recebe a notícia de que um milionário gringo vai pedi-la em casamento em breve, ela fica no quarto parada a esperar isso acontecer. No entanto, se a mesma moça receber a notícia de que o meteoro irá cair sobre sua cabeça independentemente de onde ela estiver, a reação vai ser um pouco parecida: Vai ficar no quarto a esperar seu trágico fim e tremer todas as vezes que ouvir um barulho suspeito. 
Percebi, então, que quero viver o imprevisível...Porque querendo ou não, é isso que nos move todos os dias, a espera do arrebatamento da vida e também a esperar que nossos sonhos se realizem, ainda que demoradamente ou rapidamente, para que nos consideremos pessoas felizes, por fim. Mal sabemos que é durante a busca do sonho que as coisas mais incríveis acontecem, que crescemos como pessoas, e somos felizes em cada brecha dessa busca insasiável pelo que pode nos completar de forma única. O que precisamos está dentro de nós. 

sábado, 6 de julho de 2013

Poetizando

Abri a janela 
Vinhas tão lindo
Perto do infindo
Do meu coração
Sonhei que era ela
Sua bela
A dona da sua emoção
Vertigem infeliz
Como quis 
Você era meu 
De alma,na cara
Em sonho
Te dei um sorriso
Intranquilo 
Para que percebesses 
Verias de novo
Tão pouco
O pouco do quanto eu sinto
Te amei de novo
Todo dia um pouco
A espera do teu sorriso
Esperava um abrigo
Um amigo 
Mas eras dela,só dela
E não meu,amor
Agora que te sinto
Pressinto
Que não vou mais largar
Esquece as mentiras
Intrigas
E tudo que for afastar
A verdade é um erro
O único acerto
É poder te abraçar
Te ter só pra mim
Perto do sim 
Perto do não
Perto do que eu puder
Para te deixar enfim 
Feliz por estar comigo
E não sem mim
Te esperava na janela
Que estava sempre aberta...
Pra qualquer coisa
Tipo um afago teu

terça-feira, 11 de junho de 2013

Todas as coisas de amor,e todos os cheiros


          Meu amor por ti agoniza mas não morre.       


      Outro dia uma professora disse como em um insight no meio de uma conversa informal com a turma de que a última memória a ser esquecida é a olfativa.Concordo. Demoro a esquecer cheiros,principalmente nessa curva acentuada do ombro,onde o cheiro de alguém nunca é igual ao de outro alguém. E eu sempre tive o sonho utópico de ser inesquecível para alguém,de que lembrem de mim sem eu precisar aparecer do nada, que pensem em mim de uma forma boa.

Eu sei que parece cruel mas eu quero que você sempre lembre de mim.Eu quero ter a certeza de que quando você estiver com um outro alguém pensar que o cheiro dela nunca vai ser igual ao meu,não digo pior ou melhor,mas que igual ao meu cheiro você não vai encontrar.Eu quero que você ame sim,ame muito! O tempo todo.
Mas o meu cheiro eu quero que você se lembre sempre.Já que é a última memória que alguém se esquece,acho que não seria demasiado abuso pedir que ainda lembre do meu cheiro.Eu vou aceitar que você esqueça a cor dos meus olhos,punjantes a te puxar sempre para dentro,para fora de si e dentro de mim.Eu vou aceitar que você esqueça das minhas mãos,que deslizavam docemente pelo teu corpo e te acarinhavam despretenciosamente.Eu vou aceitar que você esqueça da minha forma de sorrir, ou da minha risada,que você sempre imitava e nunca conseguia.Eu vou aceitar que você esqueça do formato dos meus seios que cabiam nas tuas mãos,do formato do meu corpo,e das minhas pernas que sempre foram finas e longas demais (eu achava-as feias,mas você gostava delas).
Eu só quero que você se lembre do meu cheiro.Precisamente dele.Porque o cheiro é a última memória que se vai embora, e eu aceito que você esqueça tudo mas que permaneça de forma corajosa na tua mente uma última memória sobre mim.
Sobre mim eu quero até que você esqueça as preferências musicais,os meus autores favoritos, a maneira como eu me arrumo e como eu lentamente troco de roupa na sua frente para que você repare mais em mim. Sobre mim eu quero que você se esqueça.Se esqueça de mim.Mas não esqueça do meu cheiro.
Te dedico todas as coisas bonitas desse mundo,mas não pense que estou sendo boa demais.Eu só não quero que você se esqueça de mim.Por isso te dedico tudo que fale sobre amor,todas as palavras carinhosas e bonitas que já inventaram e ainda aquelas que não conseguiram ser dicionarizadas,para você eu dedico o mais bonito.Para você,mas apenas para você,eu dedico todas as músicas de amor.Ou todas as músicas.Quero que ouças ao longe uma música de amor que acabou de ser lançada e que se lembre que eu a dediquei bem antes da mesma existir,porque pra você eu dedico tudo de amor.Todas as músicas de amor,eu dedico para você.
Para você,eu queria fazer-me imortalizada.Mas eu sei que isso não será possível,tento cercar sua memória com cheiros,gostos,e músicas de amor.Mas sei que não dá para tornar-me inesquecível na memória de alguém.Mesmo que esse alguém seja você.
Para você eu dedico tudo de amor,todas as coisas.Dedico eu,a você.Só a você.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Licença Poética


"Ele jurava que tentava entendê-la de forma racional,mas a verdade é que quando ele se lembrava dela,ou da cor dos olhos, ou do jeito engraçado de falar, das coisas estúpidas que ela dizia,das coisas amáveis, apenas o coração respondia. O cérebro ficava lá,intacto,funcionando apenas para as questões de matemática que ele não fazia tanto esforço para acertar.
Mas ela era emoção.Puramente.Simplesmente."

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Em caso de partida,me vejo partir também


Hoje me perguntaram de você. E eu realmente fiquei pensando uns bons dois minutos antes de responder. Pensei há quanto tempo que eu não sei de você.Não sei mais se você está sorrindo tanto quanto estava antes,comigo. É difícil saber se você ainda está esquecendo de comer, se você ainda fica olhando para o espelho (não mais o do meu quarto) enquanto fala comigo, se você ainda fica querendo brincar com coisas sérias, e se você ainda está mentindo tão bem quanto antes. 
Eu me senti lisonjeada antes de responder, umideci os lábios como quem vai contar algo importante e disse que não sabia. Porque eu realmente não sabia. Não saberia mais. Porque o que me mais me dói é saber que algumas coisas não vão mais importar quando tivermos 30 e poucos anos, e eu tenho certeza absoluta que o teu sorriso vai continuar aí independentemente de mim ou não. Mas eu sei que marquei sua vida.Tenho certeza. Assim como todos os seus amores,amantes ou amigas.
Não sei porque mas eu sinto que marquei sua vida de um jeito diferente. E eu não sei, tudo foi tão certo pra gente que me sinto acoada algumas vezes,me sinto mal. Porque sempre deu tudo tão errado, e agora está dando tudo tão certo. Parece que eu espero a cada minuto a hora de tudo dar errado de uma forma pior. E eu entendo que você quis ir embora,poucos verdadeiros são os que ficam(e conseguem). Mas escuta : Eu sempre vou lembrar do seu sorriso. 
E eu sei que a nossa política é 'terminou,morreu', mas tem algo que um dia foi tão vivo dentro de nós realmente morrer? É claro que outros sorrisos, outros rostos e outras vozes vão ocupar o lugar que um dia foi meu. E te digo o mesmo, vai ser assim também comigo. Mas alguma hora você vai se pegar sozinho e vai lembrar de mim, não com amor ou com saudade,mas apenas lembrar. Lembrar meus gostos,minhas manias,minhas caras...
E não vai ser difícil para você. 
Como você mesmo disse está 'acostumado' com partidas,sabe lidar bem com tudo, e tudo mais...Tão maduro. E não estou sendo irônica. Mas não é de maturidade que eu digo...É de aura. Sua aura é tão bonita, e seus olhos são tão misteriosos, de cor sabe-se-lá-de-quê, mas ainda assim escondem algo que eu não vou descobrir. 
E eu sei que você dizia que tudo que eu tinha que saber sobre você eu já sabia. Mas eu sempre tive uma ânsia por conhecer o outro que fez de mim uma cínica (ou artista?), bom, a verdade é que nunca estou satisfeita com as verdades prontas para entrega, aquelas verdades que você diz sabendo que é verdade, mas no fundo não é só aquilo. Como se todos nós tivéssemos um lado obscuro que tentamos porque tentamos esconder, mas não é obscuro de ruim,não. Eu digo obscuro de implícito, escondido. Quem é você quando ninguém pode te ver? O que você pensa quando está só? 
Eu queria saber tudo isso de você. E quando eu te abraçava eu não sabia o que sentir direito, porque era leve demais. Era leve e me pesava. Profundo,mas leve. Me fazia bem,sabe? Lembro que comentei com você uma vez que não sabia o que eu sentia por você direito,mesmo nós dois sabendo que era apenas mais uma das minhas 729387 alucinações e loucuras, você pacientemente me ouviu. E, eu tentando remediar a situação, disse 'mas você é tão bom para mim'. E você em seguida me respondeu 'Mas eu não quero ser bom pra você, eu quero que você me ame'.
E depois daquele dia eu comecei a pensar melhor. 
Eu te amava tanto que tinha medo de admitir para mim,queria manter tudo sob sigilo dentro de mim, porque eu tinha tanto medo, e ainda tenho. Como se eu fosse um grande buraco negro, que todo amor depositado em mim era levado a outra dimensão,outro lugar...Qualquer lugar.Mas a verdade é que o amor não ficava.
Eu te amava sim, e não era um amor santo,puro. Era pecador, safado,forte e ao mesmo tempo doce. Tão doce...Mas que não me enjoava. Você me fez sentir amada como mulher pela primeira vez, você fez aquilo que ninguém nunca fez, você realmente prestou atenção em mim,sabe? Você fez tudo aquilo que eu sempre esperei de um homem. E era tão bom pra ser real.
Mas o pior é que foi real. 
Cada momento foi real , e vai ser real sempre, cristalizado pela minha memória. E eu tive tanto a impressão de que no dia 6 de outubro de 2012 não seria a primeira vez que havia te visto, e tive a certeza de que não seria a última. 
Eu juro que, quanto mais eu conhecia as pessoas,mas eu não gostava delas. As pessoas são ruins e lá fora só tem dor. Criei um mundo só meu, e você entrou nele não sei como. Mas quando eu fui ver, você entrou no meu mundo e já estava brincando de balanço no meu jardim imaginário. E me fazendo dormir sob a árvore dentro de mim, e indo no lago da minha vida observar os peixinhos. 
Eu não sei o que você fez comigo, mas eu gostei. 
Você me disse que passou a reparar muito em mim porque na carta era isso que eu queria.Mas não estou tão certa assim que foi apenas pelo que eu escrevi. Eu acho que eu atraio a atenção e a curiosidade das pessoas porque eu sou assim mesmo(e isso não é arrogância), não sou uma árvore que tive os galhos cortados igual a todo mundo. Não aprendi a deixar de ser eu para agradar, sou mais eu mesma do que nunca, e não pretendo mudar isso jamais. Acho que isso chama a atenção. Sei lá o que você viu em mim para prestar tanta a atenção, só quero que você encontre uma menina e a faça muito feliz, mas isso eu sei que você fará. Vai prestar atenção em cada detalhe dela, e vai olhá-la nos olhos e pensar no quanto você está feliz e no quanto tudo aquilo de ruim você passou valeu a pena porque agora é ela, sabe? Quem você sempre procurou, ou esperou, ou quis, ou desejou nos seus sonhos mais insanos.
Ela vai se tornar real. 
Eu tive a árdua tarefa de encontrar um menino dentro de um homem, e acho isso lindo. Encontrei o menino dentro de você. Ele já estava aí, é claro,mas acho que despertei esse lado sem querer. "Não ama igual um adulto!" é o que eu fiz você fazer. Não ama com frieza, razão ou dureza. Ame com intensidade. 
Não sei se pelo fato de eu ter desenterrado os sentimentos mais puros e nobres por alguém agora eu sofro. Não sei se é bem um sofrimento mas uma alegria descontente. Estou alegre por ter passado pela sua vida e recebido algo de bom , e (espero) ter te dado algo de bom. Mas descontente por você não ser o cara que tinha que ser meu. 
Não sei quem eu vou encontrar ao longo da minha vida, quantos mais desafios eu terei que vencer ou então quantos caras mais eu vou conhecer e que não vão ser você. E quantas mulheres você vai conhecer que não serão eu também. Isso é bom,né? 

Não sei se eu te desejo sorte, acho que você nasceu com ela. Ou então foi o mundo que nasceu com sorte, quando você nasceu. 
Obrigada por tudo, e que você seja feliz para todo um sempre. 

Conselhos de uma sobre-vivente


Amar é não ir embora. De maneira alguma. Pois têm pessoas que vão embora e continuam ao nosso lado. Te peço para que a alma continue sempre ali,faminta por um sorriso ou outro do seu alguém. Repara na alma que caminha ao teu lado. Repara em como ela é cheia de luz, e talvez alguns pontos (até charmosos) de escuridão e de sombra. Repara que o homem é feito de sombra e luz, e a vida dele não está baseada em escolher de que lado está,mas em saber viver a vida no meio do caminho.Sempre dividido.
Um conselho que te dou é para não se deixar levar tão fácil por aquilo que o seu coração diz. Às vezes ele pode te enganar, e nesses casos, a sua cabeça é quem te protege de decisões que são ruins para um futuro. Em caso de nada dê certo, apenas sente e assobie alguma canção. 
Em caso de amor, acredite por favor. Porque não é sempre que aparece um de verdade. E o coração sempre sabe. Daí cabe a você aceitar que não cabe a você decidir o que fazer com seu amor. Ele mesmo se resolve. Quando vê você já está falando o nome da pessoa e sorrindo.
Não se humilhe por um amor, não aceite migalhas de alguém. Ninguém pode fazer você se sentir mal, sem que você deixe. Então,nunca deixe. Entenda quem você é, sempre. E quando entender, tudo parecerá mais fácil. Parecerá. Ainda vai se decepcionar com as pessoas e com o que elas dizem ser e não são,com o que elas prometem e não cumprem. Mas quando você entende quem você é de verdade, e o que você está fazendo nesse mundo, nada mais pode fazer você chorar. 
Mas o pior de tudo é que você vai. 
Vai chorar tantas vezes que vai dormir de tão cansado de pensar o porquê da sua vida ter se tornado aquilo. Mas nada tema. No outro dia as coisas parecem mais claras, e você já tem uma visão mais clara do seu problema. E precisa formular uma solução rapidamente! Porque chorar são coisas para serem feitas em casamentos e funerais, não em noites de sábado quando todos estão se divertindo, e você está se deixando triste por causa de alguém ou algo. 
Nada merece a sua infelicidade. 
Você pode tudo nessa vida, menos se fazer infeliz. 
Portanto,invente uma vida nova. Não apenas rasgue aquela página ruim do seu dia, mas jogue o livro inteiro fora. Reinvente-se.
Pessoas te dirão quem você é o tempo todo, e o que você deve fazer.Indiretamente,mas vão. Existe aquilo que é 'certo' ou 'socialmente aceitável' e aquilo que você quer. E cabe a você decidir o que é certo e o que é errado, ninguém mais. No futuro quem vai sofrer as consequências dos seus atos é ninguém menos do que você, e se arrepender do que poderia ter sido é realmente um caso sério. 
Você pode achar que seus pais são as piores pessoas do planeta alguma hora. E talvez sejam mesmo injustos algumas vezes. Mas não esqueça que são crianças tão ou mais assustadas que você, e que também precisam de colo. Existe algo de mãe e pai dentro de todo filho, e algo de um filho dentro de todo pai e mãe. 
Você vai descobrir que a saudade é como se fosse uma cãimbra chata que dá no coração. E é difícil de passar. Mas vai descobrir também que existe saudade e distância. Algumas pessoas só sentem distância, e uma minoria (bem pouca) sente saudade. E é difícil parar de sentir saudade. Ou a pessoa aparece, ou desaparece de dentro de você. 
Ou você dá um jeito na sua vida, ou é ela quem vai dar um jeito em você.
Todo dia você vai precisar escolher entre o que você gostaria de fazer, e o que você 'deveria' fazer. Se passar a decidir mais pelo 'deveria' e não por quem você é, vai tornar-se um outro alguém e não vai gostar nem um pouco. 
Ah, e não se preocupe. 
O mundo dá tantas voltas e numa delas você se encontra, ou se perde, ou muda de rumo, ou continua sua trajetória, ou se arrepende, ou diz 'eu te amo', ou realinha os pensamentos,ou conta a verdade,ou perdoa, ou sorri de novo, ou chora até dormir, ou ri até a barriga doer(...)

Entrelinhas da minha prosa


Eu não esperava te conhecer,dentre todas as coisas que eu poderia esperar,como por exemplo um terremoto na Antártida,não incluía te conhecer. E te conhecer foi inundar minha vida de alegrias,te conhecer foi a coisa mais linda que eu não pude descrever ao escrever.Descrever você. E entre tantas pessoas que poderiam ter sorrido para mim naquele dia frio de outubro,você sorriu. E entre todas as histórias de vida interessantes e biografias que poderiam virar livro com facilidade,foi justamente a tua história que me encantou.Entretanto,para ser motivo da minha prosa,não foi a tua história.Seria objetivo demais.Para desobjetivar minha prosa,escrevi sobre teu jeito.E depois foi ficando mais íntimo e mais profundo quando eu reparei nos seus lábios, e depois foi tomando conta de mim quando eu conseguia descrever o ato de vai-e-vem do meu coração ao te abraçar. E depois foi piorando,quando ao escrever de você, eu sorria descaradamente.
Eu não esperava te conhecer.
Dentre todas as insanidades que eu um dia imaginei,te conhecer não estava nos planos.Conheci alguns poucos,interessantes,sensíveis,bonitos,cada um com sua qualidade. Mas aí você riu de mim quando eu me vesti de zé e comecei a conversar.Não gostava de você por você, gostava de você por mim. Porque meu sorriso aumentava de tamanho,quando te via, e as minhas pupilas dilatavam.
Você se tornou verso fácil nos meus poemas, e se tornou as entrelinhas da minha prosa.Porque falar de amor para mim,é falar de você.
Porque quando nos beijamos 'do nosso jeitinho todo especial', é algo indescritível.Porque eu só me sinto viva quando te agarro e te beijo do jeito que tem que ser,que sempre foi.Porque parece clichê,mas te conhecer foi encontrar um pouquinho de mim. Pouquinho só,quase nada. Porque quando você me beija e me agarra como você sabe, eu me sinto toda sua e não estou tão certa se deveria ser de alguém mais.
Porque todos podem tentar te tirar do seu lugar,mas a verdade é que você está lá,não está?Você ainda é o amor da minha vida. E todos os dias eu sorrio ao lembrar que não existe ninguém no mundo para mim. 
Eu não esperava te conhecer, porque o que eu achava que a vida reservava para mim era algo mais ameno e menos feliz.Algo normal. Estava enganada e soube disso no momento que você sorriu.Dentre todos os poemas de Drummond e de Pessoa,não consigo encontrar uma definição perfeita do que foi o momento em que te vi,que me perdoe Machado de Assis pelo empréstimo de sua célebre frase mas apenas os relógios do céu terão marcado a infinitude de instante tão breve.
Eu não esperava te conhecer,mas te conheci. E dentre todos os meus acertos esse é o que mais me orgulho,porque foi um acerto que me trouxe você.E ter você é acordar todos os dias com um sorriso no rosto e dizer para o mundo que encontrei quem eu sempre quis,quem eu não esperava porque os sonhos são demasiado utópicos para habitarem na minha dura realidade,mas você foi um sonho real. Você é meu sonho diário, que todo dia preciso ouvir a risada,tocar ou cheirar só para saber se continua ali mesmo, se foi o sonho que a vida me trouxe.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

E você já me falou tantas vezes do verde nos meus olhos...


Ontem eu sonhei que perdia você, pra um antigo amor que eu amei, que eu perdia você por mim...A verdade é que eu perdia você porque eu tinha que escolher. Escolhi o de sempre,por hábito. Como uma marca de roupa que apenas compro porque sempre foi ali que eu comprei, e fim. Como um sorvete favorito, que eu não me arrisco a trocar. 
Eu tive que escolher no meu sonho,e eu não escolhi você. Porque você é algo novo, e me dá medo. Porque eu ainda não te conheço tão bem, e me entreguei meio rápido. Porque amor leva tempo, mas o meu não levou nem um mês. 
Eu não escolhi você por hábito. 
Hábito de não escolher o que me dá alegria, e só o que me fere. 
Hábito, porque hábito é difícil mudar. 
Mas eu mudei. 
Junto com os hábitos ruins, mudei o cabelo. Mudei a forma de sorrir. Mudei tudo, menos o meu jeito. 
Te encontrei. 
Você tocou meu coração fundo. Toquei o seu na mesma intensidade. 
Não te escolhi,meu bem, e não pensei na saudade. 
Saudade essa que eu sabia que ia sentir, já que estava escolhendo o chorar por hábito e não mais o sorrir. Veja só onde essa história foi dar. 
Me vi parada pensando se eu queria que as coisas mudassem, de novo. Se voltar ao que era, seria o ideal. 
Mas a verdade é que eu mudei. 
E nada mais justo do que eu ter encontrado você. 
Você me fez querer tudo aquilo de novo. 
Não sei porque no sonho optei pelo antigo, e não pela novidade. Não foi por amor. Foi porque você me dá medo. 
Seus olhos me devoram sem nem perceber, miúdos, devoram minha alma a cada minuto que passa, e o sangue pulsa, e a verdade aparece. 
Sua boca é o que mais me intriga. Levemente inchada, e toda hora se abre em um sorriso. 
Sorriso que eu provoco. 
Você tem cheiro de novo. 
De folha de caderno. De livro. De sentimento bom e limpo. 
A única coisa que eu me lembro no sonho é de ter me arrependido por ter escolhido o antigo. E não o novo. 
Me deixei levar por acontecimentos do passado,mas eu não vivo mais lá. Eu vivo aí, com você. Na tua cama. No teu coração. No teu abraço. 
Aí. 
A única coisa que eu me lembro de ter dito no sonho era " Mas eu não posso perder ele, não posso perder o sorriso dele!" 
Eu não gosto de dramatizar as coisas, apesar de ser um drama. 
Mas não sei se estava preparada para recebê-lo aqui, dentro. 
Abrir outro sorriso, outro mesmo coração, outras histórias pra contar, outras memórias as quais lembrar. 
Você já me entorpece de lembranças, menino. 
E quase não dá espaço para que eu não perca o tino.
"Acorda, Alice!" 
Não dá. 
Viver um sonho real é mais do que eu poderia imaginar. 
Sei que sou confusa, cheia de 'mas' , cheia de intensidade, loucura , verde, azul, roxo, e todo tipo de cor. Mas a verdade é que desde que conheci você, não sou mais 'preto'. Sou cores abertas e lindas, como teus olhos quando olham pra mim e dizem (sem nada dizer) que querem ficar. 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Valentina.


"Querido Júlio,Jurei para mim mesma noite passada que falaria pessoalmente sobre o fato de eu estar deixando você,mas não consegui suportar a ideia de olhar para o azul dos teus olhos -agora amargos- por minha causa. Não consigo lidar com o seu jeito,para ser sincera,acho que você deveria procurar ajuda.Você tem um jeito muito introspectivo e eu tenho apenas vinte e dois anos, quero aproveitar o máximo da juventude. Espero que encontre a felicidade. Sinto muito, Heloísa."

Ao ler tais palavras preferi ficar no quarto por um tempo. A carta ainda me queimava nas mãos, sentia-as quentes porém não via nenhuma queimadura aparente. Queria morrer. Ou matar. Ainda não tinha decidido muito ainda sobre tal fato. O que ela queria dizer com 'pedir ajuda'? Ela estava sugerindo que eu procurasse drogas, ou então um psicólogo? Ou então um ombro amigo? Jeff, meu único amigo remanescente dos tempos de escola, e meu único confidente, estava tendo os melhores momentos da vida dele em Amsterdãm e aparentemente não gostaria de uma furtiva ligação contando sobre meu desastrado término de namoro com a mulher que eu aparentemente idealizava, ele estava muito ocupado com todas aquelas prostitutas e todas aquelas drogas (ambas com nomes que ele não conseguia ao menos pronunciar).
Por que Heloísa havia me deixado? Claro, na carta ela é bem clara sobre os motivos. Certo, isso foi uma ironia. Caro leitor, se você não é inteligente o suficiente para perceber tal ironia sugiro que vá procurar outro texto para ler neste minuto. Acho um desrespeito ela fazer isso. Namoramos por exatamente 5 anos e 8 meses, e eu exigia o mínimo de consideração. Nós transamos. Foram noites inteiras de puro amor e tesão, misturados em aroma de canela e outros cheiros que eu não sabia identificar, mas que vão ficar na minha memória. Eu a amava. Com tanta força,mas tanta que eu achava que não conseguiria ser fiel ao que eu realmente sentia dizendo,simplesmente. Minha necessidade de escrever aumentava. Escrevi sobre ela exatamente 30 páginas do começo de um livro que eu iria dedicar para a mulher que,na época,fazia com que eu escrevesse as coisas mais sinceras. Eu a observava dormir, colocava um cigarro com sabor canela na boca e enquanto a máquina de escrever estalava histericamente, ela apenas dormia em um sono tão tranquilo e doce que me dava vontade de juntar-me a ela. Mas eu não conseguia. Minha máquina de escrever sempre teve um domínio muito grande sobre minha vida, sempre tive necessidade,até grosseira,de escrever sobre tudo. Poetizar tudo. Idealizar tudo.
Droga, eu idealizei Heloísa.
E ainda fui tirado como maluco.
Mal sabe ela que artistas como pintores e escritores são vistos como malucos desde que esse mundo é mundo, e não seria uma carta idiota que mudaria a minha concepção de que não existem malucos, existem apenas pobres diabos incompreendidos pelo mundo. Na verdade, eu me sinto assim desde que nasci. Um gauche como diria Drummond. "Vai, Júlio, ser gauche na vida!" Pois sim, eu estava desempenhando esse papel com um brilhantismo invejável. A verdade é que eu era estranho, e não era porque estava escrito em francês que faria a minha situação ficar mais bonitinha ou mais romântica. Eu era um gauche, eu era um estranho.
Não sei vocês, mas quase toda noite eu penso em roteiros diferentes para a minha vida, se eu tivesse escolhido diferentemente do que escolhi. Provavelmente seria bem sucedido, rico, cheio de mulheres, e não saberia nada de poesia.
Estava no quarto, com o mesmo roupão há aproximadamente 3 dias comendo apenas biscoitos e bebendo café. Não sairia dali sem ter uma diretriz do que fazer, ou apenas uma ideia do que seria a minha vida daqui pra frente. Sem Heloísa, sem noites de tórrido amor, e sem cheiro de canela na minha cama. Sim, eu sou melodramático. E sim, eu assistia muitas novelas mexicanas quando mais novo.
Não era de todo feio : Tinha 1.76 de altura, era magro, branco, cabelos lisos e negros que iam até metade do meu pescoço,tinha olhos com azul triste que ficavam escondidos sob meu óculos, e tinha barba. Não via nada de repugnante nisso. Era vegetariano, mas isso nunca me impediu de conquistar as mulheres. Era fã de autores clássicos, e adorava ficar em casa à noite, não gostava de bares e muito menos de boates. Publicitário, e pseudoescritor.
Não é possível que não exista uma mulher nesse mundo que não goste de homens do meu estilo. Eu sei que homens de pólo e loção pós barba cara estavam na moda, porém não poderia me desprezar de tal forma. Olhei para o espelho ao lado da cama. Estava com olheiras abismais,e provavelmente estaria fedendo.
"Tomar um banho é sempre o primeiro passo para ter um dia proveitoso" já dizia minha mãe, sábia como sempre. Eram 21:00 horas do dia 15/07 e eu não fazia a menor ideia do que iria fazer da minha vida daqui há 2 segundos, mas estava confiante. Um banho, era esse o caminho.
Depois de um banho caprichado,me arrumei como quem vai à uma festa, e fiquei andando pela sala e cantando sucessos de um dos meus cantores favoritos, Chico Buarque. Tomando um bom vinho, e comendo queijo. Como quem recebe visitas.Acho que estava recebendo a visita de mim mesmo, pela primeira vez.
"Vem, Júlio, pode entrar! Sinta-se à vontade, a casa é sua!" pensa eu com meus botões.
O telefone tocou.
"Como está meu mais novo solteiro?"
"Quem é?"
"Jeff, ora essa. Tá solteiro e já tá esquecido dos amigos, cara?"
A risada do outro lado da linha era familiar e acolhedora. Senti saudade do meu amigo.
"Que é isso meu camarada, quero saber das novidades da cidade do pecado."
"Vou contar tudo, irmão. Tô aqui embaixo da tua porta, veste qualquer coisa e vamos dar uma saída, não quero perder meu costume de sair toda noite.É inspirador."

Jeff trabalhava na mesma empresa que eu, era um publicitário. Mas tinha um trabalho artístico fora do escritório, assim como eu com meus papéis e escritos. Jeff grafitava, e fazia um trabalho belíssimo com as crianças da periferia da nossa cidade. Era um malandro e inconsequente, mas consciente. Sabe-se lá como ele conseguia.
O abracei com toda a minha frustração e orgulho esmagados, mas omiti a parte de ter ficado três dias praticamente morto no meu quarto me culpando pela falta do amor de uma mulher que não me amava. Isso era coisa de idiota, como ele mesmo falava.
Estávamos em um bar bem frequentado perto da minha casa, agitado, e com músicas agradáveis. Era apenas de MPB , e enquanto eu olhava com amargura para o meu copo de cerveja, mostrei a Jeff o bilhete que Heloísa deixara.
"Mas que vagabunda, merece se foder essa porra!"
"Relaxa, cara. Já relaxei, e já aceitei. Já sabia que estava perto do término."
Mentira. Mentira das grandes. Uma coisa que eu não sabia era que Heloísa iria embora.
"Eu sei, Júlio.Mas cara vocês namoraram por cinco anos, isso é muita coisa. Desde a faculdade, eu esperava pelo menos um pouco de consideração da parte dela."
"Eu também...Mas deixa pra lá, já passou. Aliás, como você ficou sabendo que agora estou no time dos solteiros?"
"Ora, Joana me contou. Lembra que eu tive um lance com ela mês passado, né? Então, estava tentando falar com você, mas não estava conseguindo,parecia que você tinha tirado o telefone do gancho. Liguei pra Jordana para saber sobre você, e ela me contou da 'novidade'."
"Entendi..."
Não deu para eu completar a frase pois de mãos dadas com um brutamontes de 1,90 e que devia gastar mais tempo malhando que pensando, surgiu Heloísa. Ela me olhou com uma expressão preocupada, e olhou para baixo,com vergonha. Eu a encarei com firmeza, e olhei para a mão dela entrelaçada com a dele.
"Nossa, cara, não sabia que isso ia acontecer, me-me desculpe...Vamos embora, vou pagar a conta."
Eu vi Jeff nervoso de tal forma apenas em uma outra situação, na quinta série, quando descobriram que ele ficava espiando as meninas trocarem de roupa no vestiário depois das aulas de Educação Física. Foi difícil explicar para diretora tal ato de 'pura sem vergonhisse',de acordo com ela.
Fomos embora,Jeff foi para casa depois de me dar um abraço mudo, que me fez entender que amigos são para esses momentos,mas ao invés de eu ir para casa mastigar minha dor, preferi ir para onde minhas pernas me levariam, acabei parando na praia. Eu queria olhar para o mar, respirar aquele ar, sentir aquele cheiro salino e sentí-lo queimar minhas narinas da mesma forma que eu sentia meu coração queimar agora. Mas não pude me concentrar na minha dor pois uma menina estranha estava tirando foto do mar, sendo que estava de noite. E claramente o mar era mais bonito de dia, com todo aquele contraste entre a brancura da areia e o azul do mar, e do céu. Ela percebeu que eu estava olhando para ela, e virou-se. Surpreendentemente me deu um sorriso, e fez um sinal para que eu me aproximasse.Pensei que ela fosse me assaltar ou algo do tipo, porque era a única criatura na praia àquela hora da noite,e provavelmente estava fora de seu juízo. Não sei porque me aproximei.
"Você deve estar me achando louca por tirar fotos do mar à noite,né?"
A espontaneidade dela me surpreendeu. Não consegui deixar de sorrir, por tal inocência em conversar com um homem que mal conhecia.
"Na verdade, achei bastante curioso,sim. Por que essa hora? De manhã o mar é mais bonito, tem mais luz."
" Por que você acha isso?"
"Quê?"
Ela riu. Eu ri também. O riso dela me dominava, era quase melódico.
"Pois quem disse para o senhor, que é mais bonito de dia?"
"De dia as coisas estão mais claras, tem mais luz."
"E desde quando só por que as coisas estão mais claras, elas são mais bonitas?"
Ela era louca, e estava começando a me irritar.
"Bom, eu acho que nessa hora, de dia, a brancura da areia fica mais aparente frente ao azul do mar.E claramente dá para notar melhor as nuvens do céu"
"A intenção é justamente essa. Eu gosto de tirar foto quando o mar está calmo, e tudo não passa de um borrão. Não dá para separar muito bem o que é mar e o que é céu.Acho isso poético. Desde criança sempre achei que em algum lugar daquela linha tênue que separa o céu do mar, eles se encontrariam, em um abraço."
Percebi minha bochecha suspender sem eu querer. Sorri para ela.
"A propósito, qual é o seu nome?"
"Júlio."
Eu estava realmente sem resposta. Agora ela estava ajeitando o equipamento fotográfico e deu para repará-la com mais intenção. Ela usava uma saia longa cor azul marinho, e uma blusa com um tom rosa mas muito claro, quase do tom de sua pele. Tinha os cabelos castanhos,até a metade das costas,em dreads,amarrados em um rabo de cavalo. Olhando com mais atenção percebi que seu rosto era repleto de sardas, e tinha olhos verdes. Não verdes no sentido literal, mas era algo amendoado e verde, era difícil enxergar com a pouca iluminação. Ela era linda.
Só depois me dei conta que estava olhando-a com ar de deslumbramento, e que ela estava me olhando de volta. Tratei de recompor-me, e tossir para disfarçar meu embaraço.
"E o seu nome?"
"Valentina!"
Ela me deu um sorriso por perceber que eu queria conversa. Me pareceu triste o verde dos olhos dela. Mas nada falei, mal a conhecia. Por incrível que pareça,me sentei ao lado dela para conversar. Nunca experimentei conversar com uma estranha antes.
Valentina era o tipo de mulher espetacular. Estava cursando cinema, e já tinha mil e uma ideias para seus futuros filmes. Me senti ridículo perto dela. Ela agia como se as coisas fossem fáceis demais, e estivessem ao alcance de suas mãos. E eu, com toda minha experiência de vida, me sentia o homem mais amargo do mundo perto de sua juventude tão linda. A verdade é que as coisas estavam ao alcance de nossas mãos,nós criamos as barreiras mentais e isso pesa no nosso coração,no futuro. Sentia meu coração com alguns arrobas naquele momento, com ela. Sua leveza fazia com que eu me sentisse o homem mais pesado do mundo. Mas ao mesmo tempo, fiquei leve de novo, como não conseguia em anos de vida.
Ela queria viajar bastante depois da faculdade, provavelmente iria para a Índia.
"Mas é sujo na Índia."
"Aqui também é, só que lá pelo menos é uma cultura diferente,estou cansada desses porcos engravatados que se acham reis da Verdade Absoluta."
"Está falando dos pastores ou políticos?"
"Dos dois"
E rimos.
Ela estava acampando na praia, e enquanto fumávamos ela me contou um pouco sobre sua vida. Os pais eram conservadores e não a apoiavam com a faculdade,mas ela dizia que não tinha paciência para lidar com frustrações futuras, que fez as contas e que o que ela pagaria com o psicólogo no futuro, para seus traumas profissionais poderiam muito bem serem aplicados para outras coisas.
Sua simplicidade era de um encanto imensurável.
Ela estava acampando aquela noite pois gostava de ficar sozinha fora de casa, acampava na praia à noite para refletir. E ter ideias. Ela dividia um apartamento com mais duas amigas do mesmo curso, e gostava delas. Tita e Luciana.
Depois de saber todas as histórias dela sobre o primeiro beijo, primeiro dia de aula, primeiro namorado, primeira briga, primeiro sei-lá-o-quê, resolvi contar-lhe do meu recente término e do quanto meu coração doía. Ela me ouviu compreensiva, e leu a carta.
"Ela não te amava mais."
"Acho que ela nunca me amou, Valentina.Me sinto um idiota."
"Não se sinta..."
Ela segurou minha mão. Ela apertou com força. Suas mãos eram macias, mas eu conseguia sentir a dor dela compartilhada comigo.
"Olha, se você chorou, se você se desesperou,valeu a pena o desatino. Agora, se não chorou, se não se desesperou...Paixão não era!"
"Por que viver pesa tanto?"
Eu sempre me fazia essas perguntas,mas não em voz alta. Não gostava de compartilhar meus pensamentos sem sentido, era chato ver o rosto de interrogação das pessoas,achando que eu estava maluco. E o rosto estranho sempre vinha acompanhado de um 'o que quer dizer com isso?'
Por incrível que pareça, Valentina compreendeu a minha pergunta. E não demorou para elaborar uma resposta brilhante.
"Não confunda as coisas,Júlio. Nós vivemos pesados,com tantos planos, e obrigações,e sentimentos, e dores e traumas, porque queremos. A vida é muito simples.Nós complicamos tudo. Se parar para pensar, a sua vida é apenas uma roda viva de expectativas e decepções. Já foram tantas as decepções que eu prefiro não esperar mais nada."
"Não consegue esperar nada do amor?"
Não resisti a essa pergunta. Uma mulher tão incrível daquele jeito não poderia ter desacreditado do amor, tão jovem.
"Provei do amor,todo o amargor que ele tem, então jurei não amar mais ninguém"
"Noel Rosa"
"Ei,você é bom!Achei que quase ninguém ouvisse mais essas músicas antigas."
"Também me sentia meio deslocado com relação ao meu gosto musical."
Sorrimos um pro outro.
"Por que não consegue amar mais ninguém,Valentina?"
"Eu não sei. Acho que sou um pouco criança ainda."
"Justamente.Só as crianças são capazes de amar da forma mais pura e nobre."
"É,talvez. Mas eu confio nas pessoas cegamente. E as pessoas erram, e muitas vezes podem nos machucar sem intenção alguma, ou com intenção. A verdade é que eu me entrego muito."
"Dá pra perceber pelos seus olhos"
"Hum?Meus olhos?" Ela disse rindo, desconfiada.
"É, seus olhos ué!"
"Ora, você viu o quê nos meus olhos?"
"Eles têm uma cor inexata, e são misteriosos. Quando você fala das coisas, seus olhos brilham,mas é um brilho bonito,quase magia.Dá pra perceber que você se entrega."
Eu acho que queria beijá-la. Mas não conseguia me mover, seu jeito era entorpecedor,me sentia um pouco anestesiado.Queria tanto a alma dela,quanto a boca.Queria conhecê-la melhor, queria descobrir mais sobre ela. Mas ao mesmo tempo a boca dela rachada pelo frio, parecia convidativa. Mais ainda quando sorria.Me segurei,não sabia ainda o que ela queria.
Ela ruborizou com meu elogio.Olhou para baixo. E me entristeci. Pela primeira vez naquela conversa infinita, ela tirou os olhos dos meus. Valentina sabia como prender alguém apenas olhando.
"Bom, eu já sei um jeito para você esquecer a sua ex, eu fiz isso com um rapaz que eu amei, e deu certo.Minha mãe é psicóloga então ela me disse que escrever sobre o que sentimos é reconfortante,você costuma fazer isso?"
"Na verdade,sou um escritor nas horas vagas."
"Ah,então somos do mesmo clube! Bom, um momento."
Eu estava um pouco decepcionado,não entendi porque ela mudou de assunto. Acho que realmente a magoaram.Fico pensando que tipo de idiota faz isso com uma menina,mulher,seja lá o que ela fosse.
Enquanto ela vasculhava a bolsa a procura do objeto que gostaria de me dar,percebi que tirou um caderno e uma caneta.
"Toma, escreve para ela. Minha mãe disse que alivia a dor."
Eu a olhei e sorri. Ela se levantou.
"Enquanto você vai pensando no que dizer a sua ex-futura-mulher, eu vou descansar.Tive um dia cheio.Quando terminar,faça um barquinho e jogue no mar.Vai te ajudar bastante,Júlio. Eu sei que vai. Espero que quando eu acordar você ainda esteja aqui,já são quatro horas da manhã!" Ela riu, e me deu um beijo no rosto e um abraço. Seu cheiro era uma mistura de menta, e outro que eu não sabia o nome,acho que era algum cheiro de flor. Combinava com ela.
Não consegui escrever sobre a Heloísa. Nem uma linha sequer. Em compensação os olhos de Valentina não me saíam da cabeça.
Essa era a verdade: Eu tinha enlouquecido.
Como eu consegui me encantar em uma noite com uma mulher se eu não havia conseguido me encantar de tal forma com todas as outras que surgiram antes dela?Eu peguei o papel,decidido a ir embora e deixar apenas a caneta,mas queria escrever algo pra ela. Ela me escutou aquela noite inteira, e não reclamou, e nem bocejou.

Ao acordar na manhã seguinte, abri a lona da barraca em que me instalei e para minha surpresa Júlio não estava mais lá. Não entendi porque ele foi embora,achei que ele tivesse gostado de conversar comigo.
"Ah,parabéns Valentina,mais um homem que você espanta por tanto falar de si mesma. É bom pra aprender,menina."
Falei em alto e bom som. Estava triste, tinha acabado de me decepcionar com um cara,e queria mesmo era morar na praia. Considerando o fato que o cara está namorando a minha amiga, e colega de casa,Luciana. Eu me pergunto todos os dias porque ele me enganou de forma tão brutal, e me fez depositar nele confiança e amor,sendo que não estava disposto a me dar isso de volta. Me senti uma idiota,dançando uma valsa vienense sozinha,só comigo. O meu par havia desaparecido misteriosamente. Vontade de bater no quarto dela e falar "Um momento,gostaria de falar com o João,por favor."
E falar tudo o que está engasgado bem aqui. Acho que as pessoas que maltratam nosso coração não têm ideia de que por trás daquele rosto saudável estão alguns traumas,algumas dores, e que sinceramente,não é necessária mais nenhuma dor em nossa vida.
Já havia passado o 'grilo' do qual eu estava me queixando,mas não sei. Eu deveria parar de ser idiota. Eu me senti idiota com o Júlio ontem. Ele parece ser tão especial,e infelizmente encontrou a mulher errada. Acho péssimo quando a hora é certa,mas a pessoa,errada. Em cada palavra que ele disse eu me encaixei perfeitamente. Não quis contar do meu drama infantil porque estava cansada de construir e demolir fantasias.Eu destruía meus sonhos iludidos de amor com a mesma facilidade que os construía.Mentira.
Era incrivelmente mais fácil construir do que destruir. Ao contrário dos prédios e casas, que demoravam alguns meses para serem construídos, e apenas horas para virarem escombros.
Não sei porque Júlio fez com que eu sentisse meu coração doer e aliviar ontem. Ele é realmente um cara especial,mas eu deveria estar sofrendo feito louca, se bem conheço todo meu processo de demolir fantasias. E demora pouco mais do que uma noite para pensar em um cara antes de dormir. Mas alguma coisa nos olhos azuis dele me lembrava algo bom. Algo feliz. Era a própria tristeza e felicidade líquidas,injetados nos olhos dele.
Loucura.
Esquece,Valentina.
Enquanto pensava sobre o quanto a minha vida estava bagunçada e infeliz,quase pisei em um barquinho de papel que estava na areia, em frente a barraca, com a minha caneta dentro.
" Valentina, 
Você me pediu para escrever sobre a minha ex-futura-mulher,mas a verdade é que eu não consegui deixar de pensar em você. Você me encantou da forma mais bonita, e eu senti meu coração tremer e doer enquanto falava com você.Como se ele estivesse sendo lavado, e tenho inveja de quem convive com toda a sua luz diariamente. Eu juro que gostaria de dizer que gostaria de ser um desses poucos,mas não consigo olhar para sua boca e não pensar em beijá-la.Seus olhos quase ganham do seu sorriso.Eu disse quase. Seus olhos são lindos, e eu nunca vou me esquecer deles. E nem dessa noite. Saiba que pensei em te beijar todo momento,você é realmente linda. Não sabia se deveria beijá-la,na verdade,eu queria conhecê-la melhor e também queria beijar seus lábios rosados. Eu me sinto envergonhado de falar isso,mas o que aconteceu ontem/hoje com você não foi normal.Não estou acostumado a me encantar tão rápido com alguém.Perdão por essa despedida um tanto quanto grotesca,espero te ver algum dia,com o coração cicatrizado. E, de verdade, espero que você ame muito alguém.Creio que você nasceu para propagar amor aos outros. Você me deu amor sem ao menos perceber. Obrigada. 
Júlio."

Eu não conseguia esboçar minha emoção nesse momento,acho que eu queria chorar.Eu não acredito que ele sentiu o mesmo por mim. E eu não acredito que ele foi embora, e eu ao menos nem posso procurá-lo porque aparentemente ele é um estranho para mim.
Sorte.
Refiz o barquinho, e o beijei. Desejei com toda a força que Júlio voltasse para aquele mesmo ponto na praia. E que eu estivesse ali de novo. E que dessa vez não houvesse dor alguma para atrapalhar, ou algum pudor. Apenas eu, ele e o nosso amor. Nem sabia se poderia chamar aquilo de amor, mas aparentemente,sim. Era amor. E vai ser amor para sempre. Um amor de uma noite e que duraria para sempre.
O roçar da barba dele ao me abraçar era a única lembrança que eu me lembrava com tanta vivacidade que poderia chegar a sentir roçar no meu ombro.

"Não acredito Júlio,você se apaixonou por uma estranha,cara? O caso está grave mesmo."
"Se você a visse você ia entender, ela é linda Jeff! Lin-da! Entendeu? Linda."
"Eu entendo o que quer dizer linda,mas"
Jeff olhou para os lados,cabreiro.Estávamos na agência de publicidade que trabalhávamos, e toda discrição era pouco.As paredes tinham ouvidos.
"Mas o que você sentiu é atração.Não se ama alguém em uma noite."
"Eu a amei em uma noite, e não estou apaixonado só porque ela é linda, a alma dela é linda também."
"Ah,ótimo.Agora você conhece a alma dela também?"
"Conheço. E eu quero voltar a vê-la."
"Qual o nome dela?"
"Valentina."
"Até o nome dela é estranho cara, e pelo que você descreveu, ela usa dreads né? Deve ser uma dessas filhinhas de papai rebeldes,não é mulher para você. Aliás,mulher não né,menina."
"E desde quando você sabe qual é uma mulher pra mim?O meu coração ficou leve perto dela. Se você procura mulheres e vai conhecendo-as por meses até decidir de forma 'racional' qual é a melhor, como quem seleciona um destino de viagem, e não a mulher de sua vida, isso é problema seu, meu amigo. Eu escolho a mulher que faz meu coração leve, e que me faz ver as coisas de modo diferente."
"Bah,não vai adiantar nada que eu disser né?"
"Não."
"Então,ok.Escolha o que seu coração aí diz. Deixou pelo menos seu telefone com ela?"
"Não, eu apenas deixei um bilhete de despedida.Eu sei, fui um idiota.Mas eu estava confuso.Achava impossível me apaixonar por alguém em uma só noite, considerando que vi a mulher que eu amava com outro no mesmo dia. Estava confuso e triste."
"Eu entendo,cara,mas se passou uma semana já,pelo que você falou. Como vai fazer para reencontrá-la?"
"Desde que eu a conheci fui na praia todo dia à noite, no mesmo horário, e não a encontrei...Será que eu a perdi?"
"Não pense assim, se ela tiver que ser sua, ela vai ser.Seja daqui a um dia, ou um ano."
Dei um murro na mesa. Jeff se assustou.
"Eu não quero esperar um ano, eu a quero já!"
"Então vá à luta, e acampe na praia. Espere o tempo que for necessário,coma mal e durma pior ainda, dentro de uma barraca de lona horrível."
"Não dá para conversar com você,você é muito amargo,vai se apaixonar um dia também,vai ver só."
"Tá,tá.Agora a gente volta ao trabalho."

Sim,caro leitor, essa história é um pouco resumida e louca. Quase crua. Não sabia muito sobre Valentina, apenas que eu a queria para mim. Toda. Em todos os sentidos possíveis. Ela tinha que ser minha, e eu ia desejar morrer se não a tivesse só para mim.
Heloísa não passava de uma fumaça nas minhas lembranças. A cada dia o sorriso de Valentina aquela noite se fazia mais, e mais presente. Acho que passei a dividir minha cama com as lembranças dela, e com o cheiro de menta e flor.
Diferentemente da estratégia usada anteriormente, eu passei a voltar naquele ponto da praia de manhã,à tarde e à noite,naquele horário.
Dois meses se passaram, e eu já havia me acostumado com a ideia de que conviveria com a amarga ideia de não poder tê-la. Com certeza seria uma história bonita para contar para meus filhos, sobre a mulher mais misteriosa,linda e encantadora que eu já conheci. Provavelmente a mãe deles vai ser uma mulher normal, sem grandes brilhos. Mas vai ser honesta, e bonita. Linda era um adjetivo forte demais para dar à minha futura mulher, que não seria Valentina. A minha mulher seria comum, e eu seria infeliz.

"Vamos no churrasco do chefe,Júlio, você está estranho desde que conheceu aquela mulher,menina,sei lá."
"Eu não quero ir Jeff, é difícil entender?Eu quero ficar sozinho."
"Não vai adiantar você ficar sozinho desse jeito,ela não vai voltar.A Valentina NÃO vai voltar."
Confesso que ouvir aquelas palavras do meu melhor amigo me doeu um pouco.Eu estava esperando alguém 'fora de mim' dizer aquilo em voz alta.Não podia mais esperar tanto tempo para ficar normal de novo,teria que aprender a conviver com o vazio e com um destino mesquinho traçado à minha frente, igual 90% daquela cidade.
"Tá,cara...Vamos. Por que o chefe nos convidou para um churrasco?Ele nunca chama ninguém da Agência para nada."
"É verdade, mas a filha dele voltou de algum lugar,eu acho, e ele está feliz, sei lá.Só sei que vai ter comida de graça, e bebida de graça."
"Certo"
Me arrumei como quem vai a um velório, e não queria falar com ninguém.Estava triste e chateado,acho que nunca me senti assim em toda a minha vida. Valentina foi embora e pela primeira vez pensei que tivessem levado um pedaço de mim também.Ela é o tipo de mulher que é difícil de esquecer.

"Não acredito que vieram meus gênios criativos para cá!Venham, entrem!A festa está apenas começando!"
Eu dei um sorriso modesto.
"Valentina, venha cá conhecer meus amigos da Agência!"
Jeff me olhou com a mesma expressão de choque no rosto. Eu estava congelado.Eu acho que meu coração parou naquele segundo. Mas logo se descongelou,atrás daquele monte de gente, surge uma mulher com uma expressão um pouco cabisbaixa porém simpática. A minha mulher. Só minha.
Era ela!
Jeff me olhou como quem não acreditava, a descrição batia com a que eu havia dado.Mas ele quis perguntar apenas para conferir.
"E-e-ssa é a Valentina?"
Não pude responder.
Meu rosto se iluminou o mesmo tanto que o dela. Ela ficou com os olhos cheios d'água. Mas conseguiu sorrir com a mesma alegria de sempre,mesmo com seus olhos avisando que choraria.
"Por que você foi embora?"
"Eu fui para a Índia, papai apareceu com uma passagem no dia seguinte. Quando coloquei os pés em casa, minha amiga me entregou o envelope.Não acreditei. Dentro do envelope tinha um pedido de desculpas por ele não ter me apoiado com a minha carreira, e eu percebi que se eu negasse seria uma desfeita absurda. Fiquei fora esse tempo, só para perceber que o melhor estava aqui. Você mudou a minha vida em uma noite, e eu queria ter certeza se o que eu senti ali era verdadeiro.Fiz uma espécie de teste: Se eu voltasse e estivesse com o mesmo sentimento que tinha quando fui embora, já saberia."
"E você está com o mesmo sentimento?E você saberia o quê?"
Ela riu da minha ansiedade.
"O mesmo sentimento de amor incontido, que aparentemente eu ainda tinha alguma reserva secreta dentro de mim, e é o amor mais puro que eu já pensei em dar para alguém."
Eu sorri,não consegui evitar.Já estava leve de novo.Mas a minha curiosidade não deixou com que eu não perguntasse.
"E o que você saberia, amor?"
"Que é você,ora.Você é ele."
"Ele?"
"É ué!"
"Ele?"
"Ai Meu Deus.É Júlio, ele. O cara que eu tanto pensei mas que ainda não tinha rosto.Eu pensava muito em você,sabia?Mas você não tinha um rosto,ainda.E eu ouvia a sua risada dentro da minha,mas eu ainda não sabia como era a sua risada.E eu pensava em como seria quando eu te conhecesse,mas a verdade é que o que aconteceu entre nós superou minhas expectativas.Na verdade, agora, viver e sonhar não faz uma diferença tão absurda assim.Você é meu sonho real."

Com essas palavras do mais alto grau de pureza,me despeço. O resto não dá para contar.Viajamos muitas vezes depois. Tivemos nossa primeira noite de amor, e foi linda. Ela foi minha, o corpo dela se encaixava com o meu, e apesar de virgem, ela era a mulher mais linda que eu já pude ter nos meus braços. Minha mulher,minha menina.
Essa é a minha história de amor verdadeiro.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Casamento: O tabu do século XXI


Ao observar o que tantas mulheres desejam em um casamento,resolvi escrever-lhes abertamente sobre tal assunto. A palavra 'casamento' está entre as mais pronunciadas pelas mulheres ao longo dos tempos. Não é pouca coisa, afinal, a entrada de branco no altar ou então uma mera assinatura em um papel resolve algumas pendências sociais que toda mulher tem, é um atestado para o mundo de que é boa o suficiente para ser amada por alguém a ponto de esse alguém entregar-lhe o pouco - ou muito - tempo que falta de vida.
Mais do que uma dívida paga com a sociedade, algumas mulheres simplesmente enlouquecem com tantos preparativos, pois apesar da carteira de identidade dizer que são maiores de idade e senhoras de si, se vêem reféns de contos inofensivos como Cinderela,e querem um casamento digno de princesa. Nos casos mais graves, de rainha. É um sonho de infância sendo realizado em grande estilo. 
Eu sempre tive muitas expressões de reprovação quando dou minha opinião sobre casamentos. Me chamam de pessimista, amarga, mal amada dentre muitos outros adjetivos carinhosos. Não recrimino-os, afinal, fomos doutrinados para acreditarmos que a chave da felicidade é justamente 'o outro'. Não só propagandas de sites de relacionamentos quanto o marketing na televisão delimita bem quem é feliz e quem não é. Como uma mensagem subliminar "Se achou alguém bom para você,você é feliz. Caso não, a sua vida não presta."
Parece exagero, mas é exatamente assim que acontece. Quem é solteiro e feliz é visto como mentiroso, e quem está namorando e é infeliz provavelmente deve ter cometido algum erro com a pessoa amada. O que mais me aborrece é apostarem tanto na 'união', e tal 'união' ser tão egoísta. Dar-se ao outro tem muitos mais individualismo do que aparenta. Parece complicado,mas não é. 
Ao dar-se por completo em um relacionamento, primeiramente precisa dar-se por completo a si mesmo. Precisa ter-se acima de qualquer outra pessoa. Entender que a felicidade não é 'ter', é 'viver'. Não se tornarás mais feliz por ter alguém com quem dividir as mágoas, se nas horas das alegrias queres vivê-las todas sozinho. 
A igreja badala os sinos. O doce 'blém blém' anuncia a entrada de mais uma mulher que ao entrar na igreja será o centro das atenções. Ela não se importa. Está levemente maquiada,mas nada pesado. Não gostava da sensação de ter uma máscara no rosto. Queria casar-se o mais livre possível de máscaras. Tanto estéticas quanto na alma. O sorriso não cabia nela, mas sentia que o canto da boca tremia de nervoso e ansiedade. Parece que era um evento na cidade, estavam todos ali. Amigas, pais , parentes,vizinhos. A vida dela estava ali, e ao passar pela igreja foi lembrando aos poucos do porquê cada um estava ali. Estava passando pela vida dela, como quem passa em um túnel. Todos a olhavam deslumbrados.Não só pela beleza dela que era inegável, mas pela leveza com que caminhava. Uma das vizinhas maldizia baixinho para a vizinha de banco 'ela está caminhando como quem vai comprar pão!'
Ela ouviu. E continuou sorrindo. 
Ali, no altar, estava um homem. Não muito alto, nem muito baixo. Não muito magro, nem muito gordo. Um homem normal. Era só para ele que ela conseguia olhar, e ao ver o 'túnel/corredor' da vida dela (ironicamente, um caminho de flores do campo), ela via que sua vida não fora de todo ruim. Os anjos nunca a abandonaram. Havia momentos de intensa euforia, e momentos de depressão. 
Ela não conseguia raciocinar muito bem, estava boba com o que estava prestes a fazer. Dizer 'sim' na frente de todos. Dizer que 'sim', ela aceita ser daquele mesmo homem pelo resto da vida. Logo ela, que sempre achou isso tudo tão clichê, armado e cafona. Para ela, era bem simples. Ela aceitava o fato de que não havia nascido para casar, e queria que seus namorados lidassem bem. Desde muito criança, ela dizia isso. Não queria 'entregar' a vida dela nas mãos de outra pessoa. Ela queria viver independente, queria ser 'dona do próprio nariz'. 
Ela conheceu aquele cara aparentemente normal, mas com uma alma anormal. Ele a fez mergulhar nos abismos mais profundos dela mesma para entender que o que ela queria era ser generosa o suficiente para ficar com alguém. Isso ia contra os princípios dela. Não queria ficar subjugada a um homem, dependente, anulada. Era essa a imagem que ela tinha de um casamento. Aos poucos ele mostrou a ela, que sem querer ela já estava casada. Parece idiota falar-lhe isso, caro leitor. Mas a verdade é essa. Já se casou diversas vezes antes de entrar em uma igreja. Você já disse 'sim' sem nem ao menos perceber. Você disse 'sim' quando deixou de ficar com aquele rapaz super boa gente que queria te conhecer melhor no bar porque não deixava de pensar nele. Você disse 'sim' quando ele foi até a sua casa pela primeira vez, e vocês brincaram, e se divertiram como duas crianças. Um lavando a louça e o outro perturbando. Você disse 'sim' quando aceitou conhecer alguém e pela milésima vez acreditou ter encontrado o amor. Você disse 'sim' quando o abraçou e não queria nada mais. 
Ela finalmente entendeu, aquela menina ainda, que caminhava aos saltos a caminho do altar que casamento não é uma 'instituição falida' como dizia Machado de Assis. Perdão,Machado. Mas casamento é apenas o atestado que a sociedade quer de um amor. Apenas para dizer 'agora vocês podem se amar livremente perante a lei'. Porque não ia mudar muita coisa. Eram amigos. Brincavam do que discutiam, e conseguiam rir mais do que ficavam sérios. Era apenas o melhor amigo dela ali, esperando aquela cerimônia chata acabar para saírem para algum lugar tomar milkshake e rir do vestido de uma das madrinhas. 
Ela finalmente entendeu que casamento é apenas uma exigência feita pela sociedade. Que dentro do coração dela nada precisava mudar. Nada mudaria, então. Ela continuaria olhando para ele com o mesmo amor e carinho de sempre. Ela iria alugar um filme no final de semana para verem juntos. Encheria a geladeira de comidas congeladas. Colaria recados na geladeira. Ela finalmente entendeu que é preciso muita independência dentro de si para querer unir-se a alguém. Que aceitar estar com o outro é a mais autêntica forma de demonstrar que não se depende de ninguém. Que tudo 'está' , nada 'é'. 

De fogo é teu coração em atos que me gelam

Sabe , às vezes eu me sinto com medo de que esse período bom acabe. Porque é uma felicidade que irradia e toma tudo em mim , invade e seca os becos úmidos e clareia tudo escuro cá dentro . Agora eu só consigo sorrir. E é um amor tão simples e honesto que não me torna dependente, e acho que o auge do amor é justamente esse. Estar-se com o outro não por dependência , mas por preferência. Eu quero estar com você. Não porque me completas,mas porque me transbordas. Dia após dia vai transbordando um pouquinho de mim. E toma minh'alma , esparrama , usa-a , abraça-a , acalenta , enloquece , aquece. O engraçado é eu procurar um pouquinho todo dia como era me sentir triste, porque não sei mais. E não é um sorriso porque te encontrei. Mas sim porque consegui amadurecer muito, em minha evolução nesse mundo , para conseguir viver um amor humilde , e não um amor dependente. Gosto de estar perto de você,porque me deixa sorrindo por um dia inteiro. Mas , caso você queira desaparecer , eu vou entender. Mas o sorriso não vai ser mais tão aberto quanto antes , as risadas não mais tão espontâneas , e o olho de verde brilhante vai passar para o verde musgo, porque ninguém mais irá elogiá-lo todos os dias. Sim , vou me adaptar depois. Depois vou descobrir outras risadas , outras pessoas , outros caras. Mas sempre vai ficar uma lacuna em mim! Porque cada pessoa que passou pela minha vida , deixou alguma coisa. Mesmo que seja algo ruim , me valeu como experiência. E por mais que me digam que eu deveria aprender a não entregar o ouro de uma vez para todo aquele que eu me apaixono , não consigo evitar. Quando me apaixono , a entrega é verdadeira. E eu não sei essas coisas da sociedade de 'conhecer MUITO antes de se apaixonar por alguém'. Eu entendo. Mas o engraçado é que quando me apaixono sinto que conheço a pessoa por anos. Aí não dá. Entrego o ouro de vez. E para quem eu me apaixono eu mostro meu lado mais verdadeiro possível , acho que a pessoa até se embaraça com tanta veracidade vinda d'alma de uma menina de apenas dezessete anos. Parece que vivi muito mais do que diz na minha identidade. Não entendo. Apesar da minha idade sinto que com o meu coração e alma posso carregar o mundo , posso abraçá-lo! E ao mesmo tempo posso sentir a dor dele todo , assim de uma só vez. E sou muitas. E para quem eu me apaixono eu sou tudo isso,cada face desse prisma que brilha furtivamente em um sorriso escancarado ou um olhar certeiro. Não gosto de metades , então. Sou essa , toda , muitas , só tua. E vou ser sempre só de você , até você fazer algo que me magoe de uma forma irreparável. Porque você me magoar vez em quando é perdoável , e até cabível. Perfeição demais enjoa e ensoberba.

Ao futuro amor da minha vida,


Rio de Janeiro , 
Quinze de junho de dois mil e doze.

Ao futuro homem da minha vida , 
Oi! Olha , não sei quando eu vou te encontrar. Pode ser daqui há um mês , ou um ano! Provável que você seja de alguma faculdade. E , acredite , sou difícil , viu? Chata , toda vida. Sou assim. E já lhe adianto que ficar comigo , é para poucos. 
E também , para eu estar lhe mostrando essa singela carta agora , é porque despertaste em mim um sentimento que há muito eu havia perdido. Não quis mais saber , joguei fora. Eu estou magoada , futuro homem da minha vida. Estou sangrando por dentro. Não sei se alguém poderia amar alguém cheia de retalhos , machucados , dores… Mas você o fez. E , acredite , se não achasse você bom o bastante , você nem saberia a existência dessa. 
Eu sou cheia de defeitos. Muitos . Sou detalhista , e tinhosa. E também uma sonhadora , como podes ver , já que estou escrevendo uma carta a alguém que nem conheço. Ainda. Te peço para ser bom para mim , te peço para cuidar de mim , porque apesar dos apesares , preciso ser cuidada. Pode deixar que eu vou te cuidar também. Te mostrarei um mundo de sensações e sentimentos que você nunca antes tinha conhecido , pelo menos é o que dizem sobre mim , não estou “me achando” não , viu? Mas também , homem da minha vida , vou ser completamente rude algumas vezes , te peço paciência. 
Estraguei com todas as relações que estabeleci até hoje. Digo , amorosas. Porque , quando eu amo , amo mesmo. E quando eu quero , quero mesmo , mesmo que todos me digam para não querer. 
Sabe , estou passando por uma barra. Barra pesada. Se Deus quiser , ano que vem estarei na faculdade , dando os primeiros passos para uma infinidade de coisas , uma infinidade de pessoas que ainda vou conhecer. Acho que você é alguma delas , né? Não sei teu rosto. Não sei de onde você veio. Seja lá de onde você veio , sei que será especial. Vai ter um sorriso manso , vai ser doce quando fala , vai me conquistar direitinho. Mas não quero ser conquistada por um só dia. Quero ser conquistada uma vida inteira! Pois , caro rapaz , se eu te escolhi é porque algo você tem de bom. 
Sei que sua essência vai ser bonita. Sei que vai ser cheiroso também! E muito inteligente. Mas não só da inteligência comum , serás sensível. De uma sensibilidade única , mas mostrará sua fortaleza quando eu precisar dela. Você vai chorar comigo , algum dia. E eu vou achar doce , muito doce. Pois você pode chorar comigo , não te peço para ser forte o tempo todo. Só nas horas certas.
Saiba , então , que se estou lhe escrevendo , é porque é importante. É , muito importante. Será que eu vou demorar muito para te encontrar? Espero que não. Pois só o colo de alguém que me ame de verdade , faria da minha sexta feira , uma sexta feira especial. 
Promete me amar? 
Camilla Gutierrez